Revista Kerrang – tradução

Problema em dobro

Tanto M. Shadows quanto Corey Taylor tiveram momentos ruins esse ano. Mas com suas bandas fazendo turnê juntas no Reino Unido, eles estão determinados a ajudar um ao outro e olhar para o futuro.

James Root chega com uma faca enorme na mão. “Os britânicos gostariam de bolo?”. É aniversário dele e os organizadores o presentearam com um bolo enorme cor de rosa em forma de carro de corrida. Normalmente teriam 39 velinhas em cima, mas o guitarrista não ligou muito pra isso.
“Como tem sido meu aniversário? ótimo. Todo mundo parece gostar de celebrar meu aniversário mais do que eu, mas é uma desculpa pra comer bolo eu acho.”

É a sétima semana do Uproar e podemos dizer que a maioria das bandas estão prontas pra ir pra casa. Hoje é o show de número 33 e o festival, que é liderado pelo Avenged Sevenfold, Disturbed e Stone Sour, com Hellyeah e Halestorm entre eles, chegou ao MTS Centre em Winnipeg, Canada. O clima no backstage pode ser descrito como letárgico.
O camarim do Disturbed está vazio, o Avenged Sevenfold está numa academia por perto e os festeiros do Hellyeah estão festejando em outro lugar. Assim como a Rockstar Energy Drink Mayhem Tour, o Uproar só começa quando chega a noite, quando as bandas se juntam para um churrasco e festas preparadas pelos fundadores John Reese e Kevin Lyman. Mas durante o dia tudo é calmo, profissional e eficiente como homens grandes e tatuados carregando cases pelos corredores.

Essa tem sido uma turnê que vai marcar. Não porque é o primeiro Uproar Festival, mas também é a primeira vez que o Avenged sai em turnê sem o baterista Jimmy “The Rev” Sullivan, que morreu tragicamente em dezembro do ano passado. A banda ainda sofre e isso fica claro durante o show, quando o vocalista M. Shadows faz uma dedicação emocionada a seu irmão como uma introdução a música “So Far Away”, um dos destaques do álbum “Nightmare”. Enquanto as notas finais se misturam aos aplausos, Shadows abaixa a cabeça e murmura “Nós amamos você Jimmy”. É um momento bonito durante a turnê, onde a comunidade do metal tem mostrado amizade e apoio em momentos que a ferida deles permanece aberta.
E ninguém tem sido mais compreensivo que Corey Taylor (Slipknot/Stone Sour) que sabe muito bem como é perder um amigo. Ele perdeu seu amigo de banda Paul Gray (Slipknot) em maio desse ano. Para Corey essa turnê também é a primeira que ele faz desde a morte do amigo.

Sem surpresas, quando colocamos M. Shadows e Corey em uma sala depois do show do Avenged, eles usam palavras como “reconfortante” e “se curando” para definir a turnê juntos, e as palavras saem de forma positiva e cheia de esperança, enquanto eles contemplam os dias, semanas e meses a frente.

Quando os dois senhores se conheceram?
Corey: Acho que a primeira vez que nos conhecemos oficialmente foi em 2006 na França. Tínhamos acabado de lançar o Come What(ever)May e estávamos tocando no Hellfest. Fizemos uma entrevista e uma sessão de fotos com o Max (Cavalera Conspiracy, Soulfly) e estávamos conversando um pouco. Eu escuto o Avenged Sevenfold faz tempo e acho que você (M. Shadows) disse em uma entrevista que ouvia o Slipknot, mas foi a primeira vez que nos conhecemos direitos. E desde esse dia nos odiamos!

E quem teve a brilhante idéia de colocar as duas bandas em turnê por 4 meses?
Corey: Meu empresário deu a idéia e fez sentido. Somos duas bandas diferentes mas sonos muito bons ao vivo, tocamos músicas boas e somos bons artistas, então fez muito sentido. Eu disse “Vamos marcar essa merda e fazer a turnê!

M. Shadows: Só o fato de levar as pessoas a um show é difícil hoje em dia, então se você pega duas bandas grandes, com estabilidade no mundo da música e as coloca juntas, vai dar um motivo a mais pra pessoa gastar o dinheiro. Estamos fazendo isso de uma forma inteligente: queremos servir direito nossa base de fãs e dar a eles um bom show, ao invés de uma banda boa como headline e o resto do festival cheio de merda. Do jeito que fazer agora, temos um monte de merda junta.. (risos). Duas merdas de bandas é igual a um ótimo show!

Corey: E eu sei que nossos shows por aqui estão esgotados, então vai ser muito divertido!

A Uproar Tour já tem sete semanas. Como tem sido para vocês?
Corey: Tem sido muito bom, uma ótima maneira de voltar com o Stone Sour, já que nós ficamos fora da estrada por quatro anos. E é muito divertido. Temos grandes bandas com a gente, tem muita gente boa trabalhando nessa turnê e é uma sensação muito boa. Estou me divertindo muito, todas as bandas tem sido ótimas.

M. Shadows: A turnê tem sido bem diferente para nós. É muito bom, as pessoas são ótimas e não poderíamos pedir por mais em nossos shows, mas estamos aqui sem nosso melhor amigo, e nunca vamos esquecer isso. A parte mais difícil que fiemos foi subir ao palco no primeiro show dessa turnê, que foi parte da Mayhem, e sentimos algo que nunca sentimos antes.

Estavam nervosos em pegar a estrada sem Jimmy?
M. Shadows: Bom, no começo da turnê eu tive muitas crises de ansiedade e ataques de pânico que eu nunca tive antes na vida, o que obviamente foi por causa de tudo o que estava acontecendo. Mas foi passando, foi difícil no começo, mas se eu estivesse em casa, acabaria ficando pior porque me isolaria. E era isso que eu queria fazer antes do primeiro show. Mas quando você sobe no palco, todos estão lá se divertindo e isso não é uma coisa ruim. Foi assustador e eu estava muito nervoso, mas os fãs se juntaram e nos apoiaram durante esse período.
Com tudo o que as outras bandas nessa turnê tem passado, nós temos o Vinnie Paul (Hellyeah) que já passou por isso com a morte do irmão (Dimebag Darrel em 2004) é um processo de cura para o Avenged Sevenfold e estamos animados com o futuro agora. Jimmy iria querer que a gente se divertisse, Paul (Gray) iria querer isso também pros caras (Stone Sour) e o Dime está lá em cima agitando com esses caras. Vamos ve-los de novo algum dia, então as últimas semanas tem sido boas pra mim e pra nós.

E Corey, essa turnê tem sido estranha pra você também?

Corey: Sim. E eu ainda tive a chance de tocar algumas coisas desse novo álbum com o Paul, ele sempre apoiou muito o Stone Sour e era muito fã e sempre que eu tinha algo novo ele pedia pra ouvir. Sempre fazíamos isso um com o outro, então toquei algumas coisas pra ele ver uma semana e meia antes de sua morte. Ele ficou tão impressionado que eu prometi que ia tocar o álbum inteiro quando chegasse em casa. Foi estranho, não parecia real e ainda não parece mas uma coisa que ele gostaria, era que continuássemos com esse espírito. Vinnie disse algo muito bom “Agora você vive por dois, porque o espírito dele está sempre com você, então agora você precisa abraças as coisas ainda mais forte e aproveitar do jeito que elas são porque seu irmão está com você acima de tudo”. E isso ajudou.
Os primeiros shows que fizemos na Europa, no festival, foram muito estranhos mesmo. Eu não tinha idéia de como reagiria. Mas foi bom , os fãs foram bem legais e nos ajudaram nesses primeiros shows. Agora tenho que me focar nisso e sei que posso lidar com essas coisas um pouco melhor. Fiquei destruído por um bom tempo, mas essa é a beleza da música, te ajuda pouco a pouco a perceber que você tem que lembrar de como ele era quando estava vivo, e não em como ele morreu. E é muito bom ter um grupo tão positivo de pessoas por perto.

Muita gente procurou vocês sobre as mortes do Jimmy e do Paul, mas vocês conseguiram falar sobre isso?
Corey: Nos vimos em uma cerimônia de premiação e eu me lembro de ir até o Matt e dar os meus pêsames. Eu lembro que disse que não fazia idéia de como ele se sentia. Foi estranho porque o Paul morreu pouco tempo depois. Foi pesado, mas todo mundo conhecia o The Rev, todo mundo conhecia o Paul e todos nos apoiaram porque sabiam que ia ser estranho e eles tentaram ter certeza que tínhamos uma fundação de amor, e nos fizeram ter certeza de que não estávamos sozinhos.
Um dos primeiros caras que me ligou foi Robb Flynn (Machine Head). Somos amigos desde 1998 e foi muito importante a força que ele me deu pelo telefone. Muita gente colocou tanta negatividade no nosso gênero, mas ninguém tinha idéia de como éramos próximos e como nos aproximamos ainda mais quando algo assim acontece, eles ficariam impressionados. Eu gostaria de ver essas pessoas do pop fazendo isso, mas eles puxam o tapete do outro antes mesmo de pensar em se ajudar.

Matt: Muita gente entrou em contato comigo, mas eu não atendia o telefone e nem ligava o computador por que não fazia diferença naquele momento. Recebi muitas ligações e mensagens de texto mas não respondi ninguém, eu não queria fazer nada, estava devastado. Ele era o cara que vivia na minha casa pelos últimos 18 anos, a banda foi uma consequência. Naquele momento não havia nada que pudessem me dizer, então quando o Paul morreu, eu mandei uma mensagem pro Corey que dizia “Cara, eu sei que não tem nada que eu possa dizer, nos vemos na turnê.” E eu sei que quando o Jimmy morreu, Corey entrou em contato com o Zacky, mas eu estava isolado.

Quando vocês falam com os fãs, eles tem noção que isso não é apenas uma turnê para as duas bandas?
Corey: Acho que é importante pra eles nos darem suas condolências, acho que isso os ajudam também. As vezes é fácil esquecer que temos uma família tão grande que está sofrendo como você. Mas acho que eles estão aqui para celebrar: isso não é apenas um show de rock, é uma celebração da vida, não da morte, e eu não iria querer que fosse isso. A razão pela qual estamos aqui é pra divertir e se sentir vivo. Os fãs querem que você saiba o que é importante pra eles, mas pelo menos para mim, eles não ficaram estranhos. Eles respeitam mais do que eu imaginava, eles nos mostraram muito amor e eu só posso agradecer por isso.

Matt: Eu digo o mesmo. As pessoas dizem “Sentimos muito pelo Jimmy” nós agradecemos e acabou. Temos um livro com mais de mil páginas onde os fãs do mundo todo escreveram sobre o Jimmy e nós lemos tudo. Algumas garotas pediram aos fãs pra fazerem isso, depois juntaram tudo e isso nos ajudou muito, porque percebemos que eles não estavam invadindo nossa privacidade e ao mesmo tempo nós vimos que pessoas do mundo inteiro estavam sofrendo também. Não teve nada assustador ou maluco, e isso foi bom.

Vocês perguntaram para a platéia hoje se eles já tinham visto vocês antes, e em ambos os casos a grande maioria das pessoas estavam vendo vocês pela primeira vez. Isso foi uma surpresa?
Corey: Bom, isso significa que você está tocando para pessoas novas e isso é sempre bom. Qualquer situação em que você possa ganhar novos fãs é sempre boa, seria diferente se todos tivessem virado as costas pra ir tomar uma cerveja. Às vezes as bandas se acomodam e esperam que as pessoas fiquem loucas todas as vezes que eles subam no palco, mas você tem que tocar cada show como se fosse o primeiro. Eu adoro esse desafio.

Matt: Eu pergunto isso desde o primeiro show do Avenged Sevenfold nessa turnê e sempre teve uma boa quantidade de pessoas novas. E isso é bom, eu gosto de ver as pessoas aqui e gosto de ver que nosso álbum é relevante pra eles.

Qual foi a melhor festa que vocês tiveram juntos na turnê até hoje?
Corey: Tivemos algumas festas legais, mas eu bebo frequentemente e parei de novo, então eu fico com esse fantasma que vai e volta. Mas teve uma noite na Carolina do Norte que nós atrasamos o ônibus algumas horas só pra beber mais. Foi a primeira noite em que nos aproximamos mais, e foi legal fazer coisas bobas.

Matt: Eu só fiquei bêbado duas vezes nessa turnê, mas nesse dia eu estava acabado. Eu e o Vinnie bebemos duas garrafas de Grey Goose, uma de Jägermeister, algumas garrafas de vinho e depois outra de Jäger. O Vinnie não conseguia ficar em pé, eu quebrei tudo no nosso camarim, O Mike (Wrengen, do Disturbed) também quebrou tudo no camarim deles, aí eu tirei a camisa e tentei lutar com o Chad (Gray, do Hellyeah). Quando acordei eu não lembrava de nada.

O que podemos esperar dessa visita de vocês ao Reino Unido?
Corey: Vamos fazer a festa! Vamos tentar fazer isso ser o mais divertido possível, sem frescuras, então venham! Se muita gente vier eu fico pelado. Ah cara espera… isso saiu errado.

Em janeiro vocês vão tocar juntos novamente nos Estados Unidos, não vão enjoar da cara um do outro?
Corey: Sim, nossa eles vão nos odiar. Vai ser horrível. Na verdade não, vai ser maravilhoso!

Matt: E vamos nos ver de novo na Europa no verão, vamos tocar juntos bastante.

Corey: o Matt é bastante como eu, tentamos nos dar bem com todos. Eu não me irrito com facilidade, e se todos estão aqui com o mesmo objetivo, se divertindo e fazendo shows bons, qual o problema? Além do mais, nós somos lindos então, sério, vamos reclamar o do que?